sábado, 22 de dezembro de 2007

Na mochila uma vida


O barulho do fecho da mochila denuncia a partida. A bagagem aos poucos rompe o passado e sinaliza com um futuro diferente. Queria levar o quadro com as imagens dos amigos, mas já não há mais espaços para a lembrança. No trajeto novos amigos serão feitos, porém alguns deixados pelo caminho são eternos.
Sigo pra longe. O caminho? Nem eu mesmo sei. No fundo o que me guia é a loucura que me faz fugir. A poesia que traz a primavera abre um leque gigante de possibilidades de itinerários, por isso a escolha é tão difícil. A idéia mais clara por enquanto é seguir o vento, nem que para isso seja preciso recuar. Novas idéias surgem de idéias anteriores jogadas ao lixo.
A solidão da partida me causa nostalgia. A casa nunca mais será a mesma. Os movéis se empoeirarão e certamente a madeira não resistirá à fome dos cupins. O melhor tempo de uma vida que se foi, embora continue. Jogo os lençóis brancos sobre o sofá, talvez ele resista à degradação do sol. Agora já posso ir.
Na mochila só couberam os bons livros, e os CD’s de blues e rock’n roll, mas mesmo com tão pouco ela está pesada. Abandono o passado e foco no futuro. Talvez eu rache a cara. A única certeza é a de que se não tentar não saberei o resultado da experiência.
Imagem: obra "Guernica" de Pablo Picasso

Um comentário:

amarothi disse...

Sinto-me infaticamente invadido com o que acabei de ler... parece que você, com a proeza de um mago, entrou nos meus pensamentos e extraiu vestígios das minhas aflições e anseios...
Buscar um mundo novo, vida nova e ver se desta vez faço um final feliz, "a idéia mais clara por enquanto é seguir o vento, nem que para isso seja preciso recuar." Contudo a lembrança dos que ficaram ainda aniquila meu coração de saudades e ao mesmo tempo amarga-o com decepções... Bom, diante a isso tudo a "única certeza é a de que se não tentar não saberei o resultado da experiência."
Vagner, você é simplesmente a relíquia em pessoa!!!