sábado, 12 de janeiro de 2008

Delírios e uma camisola

"O mais triste de tudo, é a sensação da perda
sem ao menos ter conquistado"

Ela não toma café por causa do barato. Coca-cola e guaraná em cápsula então, nem pensa. O mais próximo da loucura que chega, é quando compra aqueles chás gelados no carrefour, e eles estão normalmente quentes. Mas ela nem reclama pra evitar a confusão. Tem uma vida rígida. Acorda cedo e vai dormir ainda mais cedo. Confessa-se todo mês, e talvez por isso, na última vez, ela encontrou o padre dormindo na hora que era pra ele lhe dar a penitência.
Antes de ir para cama, ela coloca sua camisola grande, branca com estampas de florzinha. Era da sua mãe e mesmo velha ela continua usando-a. A camisola é, praticamente, um manifesto contra o pecado. Qualquer um que tentasse tirá-la desistiria antes mesmo de começar. Os botões sobem até o pescoço, e a manga é longa, maior que o próprio braço dela. Na extremidade tem até uma renda que envolta o punho. A camisola lhe cobre os pés, mas mesmo assim ela costumou dormir de meias. Se ela pudesse amarraria a mão ao dormir. Assim evitaria qualquer tipo de indecências, ou pequenas "festas" com sua parte íntima. Ainda mais agora que começou a ter alguns sonhos eróticos.
Esses sonhos começaram depois do dia em que passou em frente a uma boate qualquer, à noite. Não que fosse acostumada a sair à noite, mas daquela vez tinha missa. Ela tinha que passar pelas ruas vazias, exceto por meia dúzia de gatos pingados. Em frente àquela boate, viu dois caras se beijando e logos depois, duas mulheres. Achou a primeira cena de um grotesco total. Já na segunda sentiu uma espécie de ciúme e correu, porque os calores lhe subiam pelas pernas. Justificou-se com o argumento da menopausa. Duas quadras depois, ela abriu a porta da casa.
Escancarou a fechadura e entrou no seu quarto, a camisola estava sobre a cama. Vestiu-a depressa. E toda encoberta sentiu-se protegida e segura por aquele longo pedaço de pano.

Um comentário:

ProLixo disse...

Eu tenho pena....dela....esse texto lembra-me confissões em um ônibus...

da sua eterna amiga luanessa