domingo, 27 de fevereiro de 2011

Sobre poesia e inflamações

Um poema numa manhã de domingo e qualquer motivo agia como um soco no estômago. Não era daquelas dores momentâneas e nem tão pouco dilaceradamente agressivas. Era uma dor calma, de leve, que ora cedia, mas logo após voltava como a mais louca das torturas. Se não era forte, pelo menos era constante. E nada pode ser pior que a constância, que te acompanha a todo momento, e não lhe deixa em paz.

Já disseram que devia partir pra uma próxima e que a melhor coisa a fazer era parar de pensar naquilo. Falar de fora é sempre mais fácil. O que ninguém sabia era que doía. E era incontrolável, irracional e, para ele, era patético. Tão pateticamente incontrolável.

Por causa dele, não parava de ouvir música antes de dormir. A música talvez flutuasse a mente, mas não era duradouro, era inconstante, quando se precisava de constância. No sono, as imaginações voltavam. Belos sonhos viravam grandes pesadelos ao acordar, e ele não queria acordar. Viver sem, era a pior parte.

Revirava livros em busca de explicações que não vinham. Ouviu um dia que melhor que ser amado era amar. Rio de canto de boca e imaginou quem havia sido o idiota que disse isso. Virginianos preferem o controle.

Lembrou, então de Camões, aquele das aulas de Ensino Médio. “Amor é ferida que dói e não se sente”. E teve a certeza que essa era a melhor definição. A dor não física, mas psicológica, a mais distorcidas das emoções, o mais delirante dos desejos. Na manhã de domingo, refletiu. A poesia não cura, mas alivia. Era como um anti-inflamatório.

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